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A Pediatria está doente


Na Medicina aprendemos a reconhecer sinais e sintomas, estabelecermos diagnósticos e tratamentos adequados. Aplicamos o conhecimento para prevenir, estudando cenários epidemiológicos e medidas de intervenção. Entretanto, como pediatra, tenho dúvidas de que estejamos atendendo a estes pressupostos.

Sérgio Amantéa presidente da Sociedade de Pediatria do RS

Ciclicamente convivemos com uma “doença aguda” que acomete a assistência pediátrica. Inicia pela emergência, vai se espalhando pelas unidades de internação e culmina com o cuidado prestado nas unidades intensivas. É um distúrbio grave, que transcende nossa realidade local e assume preocupação epidêmica para aqueles que convivem com estações de clima mais frio. Diferentemente do que deveria ser feito, medidas preventivas adequadas não são adotadas.

As melhorias atreladas à saúde da nossa população infantil, frequentemente utilizadas como justificativas para rearranjos assistenciais, não são suficientes para justificar o “encolhimento” de nossa rede pediátrica. Estratégias adotadas nesta linha visando garantir a própria sobrevivência, desequilibram todo o sistema de saúde, que já é insuficiente.

Na rede de urgência e emergência, a primeira a ser impactada, temos que discutir o porquê do colapso diário que vem sendo apresentado. Numa rede de vasos comunicantes, a sobrecarga setorial é compensada por vias alternativas. Possuímos profissionais em número adequado nos Pronto Atendimentos, e por que isso não acontece? Salas de observação possuem retaguarda adequada de leitos pediátricos e assistência intensiva? Existe acesso pediátrico facilitado na rede de postos? O Interior possui investimentos para casos mais complexos? Se o problema é financiamento, precisa ser equacionado. Os modelos atuais do gestor público, das operadoras de saúde ou instituições de saúde não funcionam.

Fomos criativos em gerir e financiar espaços para assistência durante a pandemia, período em que a saúde de nossas crianças foi menos impactada que a dos adultos pela COVID. A ineficiência de nossa rede assistencial (pública e privada) foi silenciosamente agravada por um fenômeno de encolhimento. Estamos agora vendo o resultado da desestruturação de serviços e de leitos e o impacto da adoção de diferentes políticas de contratação e remuneração pela atividade profissional na pediatria. Crianças não são adultos pequenos, e suas necessidades assistenciais são tão grandes quanto a dos adultos.

Por fim, a doença é grave, tem diagnóstico e necessita de medidas curativas imediatas, além de um planejamento preventivo para que não voltemos a discuti-la no próximo ano.


Sérgio Luis Amantéa
Presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
 

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