Temos acompanhado um aumento mundial das alergias alimentares nas últimas duas décadas. As alergias alimentares podem ser definidas como reações adversas, reprodutíveis, que ocorrem devido a uma reação imunologicamente mediada a um componente alimentar (em geral, uma proteína). A alergia mais comum nos primeiros anos de vida é a alergia à proteína do leite de vaca (APLV).
As alergias alimentares apresentam um impacto muito significativo na qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias, que parece ser mais importante do que o impacto causado pelas doenças crônicas, como diabetes. As Alergias Alimentares são divididas em imediatas ou IgE-mediadas e não-IgE mediadas ou tardias, de acordo com as manifestações e com o tempo que ocorrem após o contato com o antígeno. As alergias não-IgE mediadas leves e moderadas são as mais comuns nos consultórios e podem apresentar sintomas muito variáveis, desde sintomas inespecíficos como choro, irritabilidade, agitação; sintomas mais claramente relacionados à APLV como sangue nas fezes e sintomas mais importantes como perda de peso e diarreia e má absorção.
O diagnóstico dessas alergias requer um período de exclusão da proteína do leite de vaca e o posterior desencadeamento, com o retorno dos sintomas iniciais. A sequência dieta de eliminação-reintrodução, com reaparecimento dos sintomas, é o único caminho para se fazer o diagnóstico das APLV não-IgE mediadas, leves e moderadas, já que os testes de pele ou séricos de IgE não são úteis nesses casos. O tratamento requer a dieta de exclusão de leite de vaca e derivados para as mães que amamentam ou fórmulas especiais para os lactentes que, por algum motivo deixaram de ser amamentados.
O leite materno, até o momento, é o melhor para auxiliar na prevenção da APLV e na aquisição de tolerância, devendo ser sempre a primeira escolha. Nos lactentes que não são amamentados, as fórmulas extensamente hidrolisadas de proteínas do leite de vaca são a a primeira escolha de tratamento, na maioria dos casos e em todos consensos mundiais. As fórmulas de aminoácidos são usadas nos casos mais graves. Os pacientes que estão em tratamento para APLV necessitam suporte dietético, não só para assegurar a dieta correta, mas também para acompanhar os aspectos nutricionais e de crescimento do paciente, assim como possíveis problemas alimentares presentes e futuros.
Por isso, as fórmulas prescritas devem apresentar boa tolerabilidade, aceitação e palatabilidade. É necessária muita atenção no uso de preparados inadequados para crianças, como bebidas lácteas não indicadas para lactentes e crianças, como leite de arroz, leite de cabra e leite de amêndoas.
Cristina Targa Ferreira
Gastroenterologista pediátrica, presidente da SPRS
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