Os recentes episódios de violência contra crianças, ocorridos em Novo Hamburgo e Guaíba, nos causam profunda tristeza e perplexidade. Anna Pilar Cabrera, de apenas sete anos, foi brutalmente assassinada a facadas, crime pelo qual sua própria mãe é a principal suspeita. Em Guaíba, Kerollyn Souza Ferreira, de nove anos, foi encontrada morta em um contêiner de lixo, após ter sido submetida a uma vida de negligência extrema. Esses casos chocam não apenas pela crueldade, mas pelo fato de terem ocorrido no ambiente familiar, que deveria ser um refúgio de amor, carinho e proteção.
Como presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, sinto profunda indignação. Esses atos bárbaros perpetrados por quem deveria ser a principal fonte de segurança e afeto para a criança são difíceis de compreender e ainda mais difíceis de aceitar. Não há justificativa que atenue o horror desses crimes, cometidos contra seres inocentes, indefesos e que mereciam apenas compreensão, educação e, acima de tudo, cuidado.
Esses episódios trazem à tona, ainda, a necessidade de uma fiscalização mais eficiente e presente por parte dos órgãos públicos responsáveis pela proteção da infância. O sistema de proteção social deve funcionar como uma rede de segurança, impedindo que tragédias como estas aconteçam. A responsabilidade de detectar sinais de negligência, abuso e maus-tratos é de todos nós, mas cabe aos serviços de proteção à criança e ao adolescente, com o apoio da sociedade, agir com presteza e eficácia para intervir nesses casos antes que seja tarde demais.
Se uma criança é negligenciada ou abusada, toda a sociedade falhou. Precisamos de políticas públicas mais assertivas, de uma rede de apoio mais estruturada e, principalmente, de uma maior sensibilização da sociedade para sermos capazes de identificar e denunciar qualquer sinal de que uma criança está em risco. Não podemos mais aceitar que a violência encontre espaço dentro de nossos lares, justamente onde deveria florescer a vida e o respeito, permitindo que essas crianças cresçam e se desenvolvam.
José Paulo Ferreira
Presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul
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