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Cuidados especiais são oferecidos por pediatras para crianças com autismo em abrigos


Desde a última semana, um esforço conjunto envolvendo profissionais de diversas especialidades tem proporcionado cuidados especiais às crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos abrigos da região metropolitana de Porto Alegre. Com o engajamento de pediatras voluntários e outros profissionais, busca-se atender às necessidades específicas dessas crianças.

As mudanças repentinas de rotina e os estímulos intensos causados pelas enchentes podem desencadear crises de choro, gritos e até autoagressão em pessoas com TEA. O trabalho voluntário de centenas de profissionais em múltiplas especialidades está garantindo um tratamento diferenciado com carinho e acolhimento às famílias que especificamente apontaram casos de pacientes com TEA.

“O cuidado com pacientes autistas em abrigos de famílias atingidas pelas cheias requer uma abordagem sensível e adaptativa. O espectro do autismo é desafiador porque não há um protocolo. O manejo vai depender de como a criança se desorganiza. Só o fato dela estar com muita gente e muito barulho, já traz um problema muito sensível”, explica o pediatra do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), Renato Santos Coelho.

O médico salienta que dentro do possível, os voluntários e os familiares devem reforçar a noção de da previsibilidade, ou seja, tentar adiantar coisas rotineiras que vão acontecer. Salas pequenas com um grupo menor de pessoas também seriam importantes nos abrigos, ainda que se saiba que em uma zona de crise e semelhante à guerra que estamos vivendo isso é muito difícil.

“O importante é que se busque entender o desencadeia a crise. É o barulho, a quantidade de pessoas, ou a simples troca de lugar? Então buscamos amenizar esse quadro. Outra necessidade são os ajustes de medicação que precisam ser feitos sob supervisão médica. E por fim, nessas horas é preciso se valer das telas, como um elemento de apoio. Não é o momento de tentar colocar restrições. Se ela gosta de um jogo que encaixa blocos, montar figuras, e ela vai se tranquilizar com aquilo, é fundamental permitir", finalizou Dr. Renato.

Até mesmo para famílias que não foram atingidas a mudança de rotina traz impactos. Para esses casos a orientação é ter muito diálogo, ajustando e informando as mudanças de rotina, uma vez que eles não estão indo às aulas e estão sem a presença muitas vezes de profissionais de apoio que estão com dificuldades de acesso por conta das cheias.
 

A rotina nos pontos de acolhimento

No bairro Passo d'Areia, em Porto alegre, funciona um dos pontos criados específicamente para crianças com autismo. A South Training Cross fit, localizada na Rua Jari, cedeu o espaço onde estão cerca de 30 pessoas que tiveram de abandonar suas casas. Ali elas recebem acompanhamento de pediatras, terapeutas, fono e médicos clínicos geral. São trezentas pessoas na lista de atendimento que atuam de forma intercalada ajudando como podem. A terapeuta e especialista em análise do comportamento ABA, Cristine Castro, é uma das voluntárias em ação.

"As principais dificuldades que a gente percebe são sensoriais, alimentares e de convivência com as mudanças de locais. Trabalhamos com a parte sensorial, porque alguns possuem a questão de toque, não conseguem vestir uma roupa diferenciada ou tampouco receber um abraço. Fonoaudiólogos são fundamentais porque alguns são não-verbais e se comunicam por pranchas ou por tablets e em alguns casos perderam isso tudo nas enchentes”, afirmou.

Apesar de toda a tragédia, o ambiente não é de tristeza, mas de alegria.

“Felizmente temos muitos voluntários virando madrugada e passando dia e noite. Trouxemos músicos com violão, com pandeiro, com todo mundo cantando para que possam diminuir essa ansiedade e sofrimento neste momento”, acrescentou.


Redação e foto: Marcelo Matusiak
PlayPress Assessoria de Imprensa

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