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Segundo dia do Congresso Gaúcho de Pediatria expõe desafios de superar desinformação e fake news

XV Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria 2023 SPRS


A programação da sexta-feira (05/05) teve início com um dos temas mais importantes da atualidade: vacinação. O pediatra Juarez Cunha (RS) discorreu sobre a “Hesitação vacinal”, termo que descreve o atraso ou a recusa em aceitar vacinas recomendadas, mesmo quando elas estão disponíveis nos serviços de saúde.

“De 2015 em diante houve uma diminuição nos índices de vacinação no Brasil. O termo 'Hesitação vacinal' foi descrito em 2019, pouco antes da pandemia, e criado o alerta pela Organização Mundial de Saúde como uma ameaça à saúde pública. O Brasil foi o único país em que continuaram caindo os números de vacinação no cenário pós-pandemia, e muito por conta de movimentos antivacina. Convém lembrar que a imunização em massa é muito importante, e, para isso, é necessário atingir altas coberturas vacinais. É preciso lembrar que alguns grupos específicos não podem receber vacinas, e eles só estarão protegidos se o restante da população estiver imunizada”, afirmou.


Vacinação na Era COVID

Uma sessão interativa com o público analisou as questões que mais preocupam os médicos em relação ao tema da vacinação na Era Covid. O espaço contou com a apresentação do médico infecto-pediatra Fabrizio Mota. Um dos tópicos lembrados pelos presentes como barreira foi a insegurança dos pais em relação ao assunto diante de um volume grande de informações falsas jogadas na mídia.

“Estamos vendo muitos casos de evolução de doença pneumocócica incluindo mastoidite com trombose, e a explicação pode estar na pandemia. Ao longo do primeiro ano, não tivemos uma série de doenças em adultos e agora vimos um crescimento muito expressivo, por exemplo do Vírus Sincicial Respiratório que traz preocupação, junto com a COVID. Uma hipótese é que o sistema imunológico pode não ter aprendido a criar defesa contra algumas doenças que estão atingindo patamares maiores do que no período pré-pandemia”, afirmou.


Tópicos frequentes em consultório: birra e desfralde

O pediatra José Paulo Ferreira falou sobre o processo de retirada das fraldas, que é sempre desafiador para os pais. Um dos cuidados lembrados pelo palestrante é evitar a pressão social para que o bebê tenha uma idade específica para deixar de usar a proteção.

“Acho muito mais interessante quando a criança descobre o seu próprio tempo. Não é preciso estabelecer o momento adequado. Eu costumo dizer que o melhor é nem lembrar de quando foi que retiramos as fraldas, porque quanto mais natural for o processo, melhor. A primeira etapa é a percepção, seja de xixi ou cocô. Nessa fase, a criança começa a participar do processo, e isso é bom”, afirmou.

O pediatra Marcelo Pavese Porto trouxe na sequência um tema provocante, especialmente na relação do pediatra com os pais: a birra dos pequenos. Os momentos testam a paciência dos responsáveis.

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Métodos de introdução alimentar: o que há de novo?

Os métodos de introdução alimentar foram abordados em seguida pelo pediatra Leandro Meirelles Nunes. Em sua fala, o palestrante discorreu sobre métodos tradicionais e inovadores nessa etapa.

“Tivemos várias mudanças nas recomendações ao longo dos anos do ponto de vista comportamental e nutricional. Segundo o último guia alimentar indica o tradicional, porém participativo, ou seja, introduzir a alimentação mas permitindo que a criança manipule e pegue o alimento. Dar uma fruta ou um brócolis para que a criança, se desejar, coloque na boca”, explicou.

Mônica Broilo, ressaltou a importância de se dedicar ao processo de ensino para as crianças sobre os comportamentos alimentares.

“Quando pensamos na perspectiva da educação, é fundamental observar como nós adultos aprendemos. Fazemos isso participando de conversas, lendo e de muitas outras formas. A criança aprende a partir daquilo que é oferecido a elas e observando outros adultos e crianças. Então é preciso atentar para os incentivos e como estamos modelando a criança em termos de alimentação”, disse.


Atividade física e suplementação em adolescentes

A suplementação em adolescentes foi a temática seguinte, com a participação de Rosemary de Oliveira Petkowicz e Giuseppe Stefani. Um cuidado importante é considerar quando se trata de um adolescente, ou um pequeno atleta, que está se lidando com um paciente que o corpo ainda está em desenvolvimento.

“Suplementação não é para todos e não é contraindicada para ninguém? É preciso olhar caso a caso. Temos, sim pequenos atletas, e em alguns casos pode ser importante uma suplementação, mas é preciso ser orientado”, explicou Rosemary.

O convidado Giuseppe Stefani lembrou a importância de atentar especialmente para o consumo excessivo de proteína, um fenômeno muito comum nos ambientes familiares, não só para o adulto, mas para as crianças e adolescentes.

“O que observamos é um consumo muito acima do indicado em proteína. No entanto há um déficit de carboidratos e gordura boa. O aporte energético é indispensável para o crescimento saudável. Temos uma ilusão de que suplementos são pré-requisito para melhoria de desempenho e desenvolvimento de massa muscular esquelética”, salientou.


Gravidez na adolescência

Dados recentes trazem preocupação quando o assunto é gravidez na adolescência. Uma estatística comentada pelo palestrante Tiago Dalcin mostra que mais da metade das mães adolescentes também foram frutos de uma gestação prococe.

“Não é algo genético, e sim comportamental. Precisamos trabalhar para quebrar esse modelo”, disse.

Em sua fala, o convidado Thiago Rocha, falou da importância do papel do pediatra nesse debate.

“A partir de dados e da literatura é importante verificar como podemos compreender esse contexto tão sensível, e o que resulta a partir dele. Há fatores de risco que precisam ser trabalhados de orientação do adolescente, mas uma vez criada a situação, o que se pode fazer? Uma mãe adolescente tem uma tendência a ter práticas mais agressivas, e muitas vezes delegando o cuidado para outras pessoas, o que traz outros problemas futuros”, indagou o palestrante Thiago Rocha.

O Simpósio Satélite tratou da acondroplasia: principais características e tratamentos disponíveis, com apresentação da endocrinologista pediátrica Cristiane Kopacek (RS).

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Autismo

O Transtorno do Espectro Autista foi a temática das aulas no início da tarde. O pediatra Renato Santos Coelho introduziu o assunto com as descrições atuais em relação ao assunto.

“Não trata-se de uma doença, mas de uma maneira de funcionamento do cérebro. A neurociência retirou o conceito de doença passando a considerar um comportamento atípico que traz prejuízos à pessoa”, explicou.

Na sequência, o público acompanhou o detalhamento de rotinas e manejo de pacientes com TEA, através da aula proferida pelo médico Josemar Marchezan.

“Não há medicamentos que tratam a doença em si. Existem sim drogas que focam na correção comportamental. É importante lembrar que o objetivo é desenvolver habilidades que a criança não tem e extinguir comportamentos inadequados. Não existe uma fórmula mágica para tratar o autismo. Cada um vai ter um tratamento específico”, acrescentou.

A abordagem do padrão alimentar do paciente com autismo foi trazida pela convidada Mônica Broilo. A médica salientou a importância de considerar que o paciente com TEA está dentro de um contexto que não é o ideal em relação à alimentação.

“Quando analisamos dados de qualquer faixa etária que inclui crianças menores de dois anos, entre 2 e 4 anos e entre 5 a 9 anos, em todos casos temos estatísticas que apontam para um estado nutricional inadequado. Então, temos crianças autistas que estão inseridas em uma sociedade que naturalmente tem consumo inadequado. Ao ter um paciente com outras dificuldades como aspectos sensoriais e comportamentais, esse cenário fica ainda mais complicado”, ressaltou.

Na sequência, os presentes assistiram ao Talk Show sobre “Medicações: uso e abusos” com a moderação de João Ronaldo Mafalda Krauzer (RS). O tema foi debatido por Claudia Schweiger (RS), João Carlos Batista Santana (RS) e Magali Santos Lumertz (RS).


Veganismo

O veganismo foi abordado pelo palestrante Carlos Alberto Nogueira de Almeida (SP). Ele salientou cuidados necessários em famílias que seguem a prática, destacando que crianças veganas podem consumidor até três vezes mais fibra do que o recomendado, o que entre outros fatores provoca um aumento da saciedade, que pode fazer com que faltem nutrientes importantes.

“Você pode ser vegano, mas é preciso considerar que é uma dieta diferente do que o ser humano se adaptou ao longo de muitos anos. Então as adaptações são necessárias e devem ser acompanhadas por profissionais”, disse.

 

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Anquiloglossia e Frenotomia

A cirurgia de correção para a alteração no freio lingual foi debatida por especialistas no tema. Entre os fatores apontados pelo aumento no número de crianças que fazem a correção através de cirurgia estão a conscientização de que a anquiloglossia pode afetar negativamente a amamentação e um aumento no número de consultores de lactação que identificam bebês com possíveis casos. Além disso, o tema passou a ser mais discutido nas mídias. A discussão contou com moderação de Desiree de Freitas Valle Volkmer (RS) e participação dos convidados Adriela Azevedo Souza Mariath (RS), Erissandra Gomes (RS) e José Faibes Lubianca Neto (RS).


Sala do Especialista

Ao longo do dia, os congressistas também acompanharam debates na Sala do Especialista. O tema “Emergência” contou com moderação de João Carlos Batista Santana (RS) e palestras de Joelma Goncalves Martin (SP) e Graziela De Almeida Sukys (SP). A Inaloterapia teve abordagens trazidas por Sérgio Luis Amantéa (RS) e Paulo Márcio Condessa Pitrez (RS). Na Otorrinolaringologia a moderação foi de Evandro Freddy Mulinari (RS), com aulas ministradas por Claudia Schweiger (RS) e José Faibes Lubianca Neto (RS).
 


Sábado (06/05)

A programação do evento continua no sábado. Os detalhes podem ser conferidos no link https://gauchopediatria.com.br/programa.asp

 

Redação e fotos: Marcelo Matusiak
PlayPress Assessoria de Imprensa

 

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