Ainda há muitos desafios quando se pensa na COVID-19 e no futuro das crianças. Por outro lado, o período de mais de um ano de pandemia trouxe lições importantes em diversas áreas relacionadas com a especialidade e que foram amplamente debatidas no XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria. A programação iniciou na sexta-feira (11/06) e encerrou neste sábado (12/06). Para evitar aglomerações, o evento foi realizado de forma online pelo segundo ano consecutivo.
O primeiro painel do dia trouxe a temática do recém-nascido de mãe com COVID. Contou com moderação de Desiree de Freitas Valle Volkmer (RS) e com a participação de Renato Procianoy (RS) e Paulo Nader (RS). Os especialistas alertaram sobre cuidados essenciais que vão desde o manejo da gestante e a manutenção da amamentação, os fluxos em unidades neonatais, acolhimento das famílias e a importância de promover a prevenção após a saída da neonatal.
“Se for um RN normal e a mãe está bem, o bebê é encaminhado para o alojamento com todos os cuidados, e em seguida é feito o teste RT-PCR. Se ele for positivo, deve ser isolado e receber todos os cuidados. Mas se for negativo, o bebê fica com a mãe, pode ser amamentado e ter alta em no máximo 72 horas” disse Nader.
Os especialistas explicam, ainda, a importância de retirar o leite da mãe para o bebê, principalmente em casos em que a criança está na UTI. Além disso, eles ressaltaram um problema similar não só em casos de COVID-19, mas em doenças respiratórias, que é quando os pais são impedidos de entrar no hospital. Para isso, é fundamental uma equipe multidisciplinar bem orientada para atender com suporte de psicologia, pois normalmente os pais são afastados dos filhos, destaca Procianoy.
Neonatologia
Em abril deste ano foram publicadas as novas diretrizes de reanimação cardiopulmonar. Os especialistas Helena Müller (RS) e Marcelo Porto (RS) divulgaram as rotinas nestas novas diretrizes no painel moderado por Silvio Baptista (RS). Segundo Marcelo Porto, o exercício fundamental é ter um novo olhar, por exemplo, do bebê que necessita de estímulos para iniciar a ventilação.
“A cada 10 bebês que recebem uma ventilação positiva bem-feita, nove deles vão melhorar. A ventilação é o ponto central da reanimação neonatal”, comenta.
Com a moderação de João Ronaldo Mafalda Krauzer (RS), o painel “Ronco e apneia: queixa comum no consultório” foi apresentado pelos especialistas José Faibes Lubianca Neto e Claudia Schweiger (RS). Segundo ela, não existe uma idade que seja balizadora da segurança de fazer um processo cirúrgico. Tudo depende do risco da criança, por exemplo, se ela possui índices altos de apneia e se realmente repercute na sua qualidade de vida.
“Crianças com apneia grave necessitam de tratamento e cirurgia, pois têm grandes chances de consequências cardiovasculares. Mas a grande maioria possui o índice menor de apneia, porém, tem muitos sintomas diurnos e que afetam a qualidade de vida, como agitação, dificuldades de atenção e que possuem sonos agitados também”, observa Schweiger.
Além das consequências diurnas, elas alertam para a importância de questionar desde cedo o sono da criança, e os pais devem assistir os filhos enquanto dormem, especialmente no momento em que atingem o sono profundo. A recomendação é ligar o despertador por volta das 3h da madrugada e observá-las.
Microbioma
A conferência “O novo microbioma pós-COVID” foi apresentada por Mariana Gonzalez de Oliveira (RS). Como esse cenário afeta a vida das pessoas em cada estágio do seu desenvolvimento e como pensar na relação do sistema imunológico com o microbioma humano foram os questionamentos abordados por Bruno Acatauassú Paes Barreto (PA).
“É importante observar o excesso de farmacoterapia ao mínimo sintoma, por exemplo, além da higiene em tempo integral e dos níveis emocionais, como aumento da ansiedade. Além de não trazer eficácia na questão da COVID, pode trazer prejuízos intestinais”, explica.
Para esclarecer e debater sobre o melhor atendimento durante a pandemia, as palestrantes Silvana Palmeiro Marcantonio (RS) e Margareth Rodrigues Salerno (RS) trouxeram assuntos como a segurança, a mudança e adequação do espaço físico, a telemedicina como alternativa, e o papel educativo do pediatra. O painel “A consulta pediátrica na pandemia” foi moderado por Denise Leite Chaves (RS). No primeiro ano, segundo as pediatras, houve uma pressão maior e foram necessárias consultas mensais para crianças menores e que exigem mais atenção. Para os casos de crianças maiores, a telemedicina foi o principal recurso utilizados pelas especialistas.
“Muitos tiveram alteração no sono e outras características que necessitam de intervenção e que afetam o dia a dia das crianças. A telemedicina propicia manter contato, verificar a situação familiar, orientar e ajudar nas questões cotidianas que os pais necessitam de auxílio. Temos papel educador e precisamos instruir”, disse Marcantonio.
Asma
Durante a conferência “Atualização nos Guidelines de Asma - 2021”, o convidado Paulo Márcio Condessa Pitrez (RS) chamou a atenção para alguns pontos em termos de manejo, como aspectos nos padrões de crescimento e declínio da função pulmonar (FP).
“Existe uma comprovação hoje de que a asma tem uma perda da função pulmonar e os asmáticos graves perdem muita FP nos primeiros 15 anos de vida. Os pais não conhecem a gravidade da asma. É preciso perguntar se ele teve sintomas de asma durante o dia, se ele acordou a noite por asma, se precisou usar medicação ou teve algum momento de limitação em atividade física. Se algumas destas respostas forem positivas é preciso ser investigado”, afirma.
O mundo COVID e o futuro
A primeira sessão da tarde contou com o convidado André Kalil, dos Estados Unidos, que trouxe uma visão sobre a evolução do diagnóstico e tratamento da COVID-19. Para o médico, uma das principais esperanças reside no fato de que há uma expectativa de, em breve, haver medicações específicas para quadros diferentes de pacientes acometidos pelo vírus.
“Minha esperança é de que teremos medicações endovenosas para pacientes graves e orais para pacientes ambulatoriais. O que temos de descobrir é como se consegue combinar medicações para os pacientes. A nossa prática clínica em pacientes graves, por enquanto, é sempre um antiviral e corticoide, dependendo da situação de cada um”, disse.
A conversa teve moderação do médico Paulo Nader (RS).
Temas Livres selecionados
Após, foi feita apresentação de Temas Livres selecionados, tendo sido escolhidos pela comissão organizadora quatro trabalhos. O espaço teve moderação da médica Themis Reverbel da Silveira (RS). Júlia de Souza Brechane apresentou “Perfil Epidemiológico e impacto financeiro da sífilis”. Após, foi feita apresentação do trabalho “Fatores determinantes para o consumo de alimentos ultraprocessados em lactentes submetidos a três métodos de introdução alimentar”. Bruna Becker da Silva, falou da “Influência da colonização por pseudomonas aeroginosa na qualidade de vida de pacientes pediátricos com fibrose cística”. Por fim, o trabalho “desafios no manejo de recém-nascidos prematuros com permanência do canal arterial” foi apresentada por Kethlen Roberta Rousenno.
Alergia alimentar: o que há de novo?
O painel “Alergia alimentar: o que há de novo?” contou com apresentação de dois especialistas no assunto. Cristina Targa Ferreira (RS) e Matias Epifânio lembraram que na maioria dos casos, os estudos são ligados a alergias imediatas, e é importante fazer o tratamento da alergia que muitas vezes provoca sintomas tardios e inespecíficos, e que possuem um diagnóstico um pouco mais difícil. Durante a fala, analisaram os sintomas mais comuns e o tratamento indicado.
Cirurgia fetal: o futuro presente
A última palestra do evento foi dedicada à cirurgia fetal: o futuro presente. O tema foi apresentado por Talita Micheletti Helffer, mostrando os benefícios de novos procedimentos, que proporcionam até 85% de sobrevivência de pelo menos um dos fetos, por exemplo, além de reduzir os índices de prematuridade. Outras indicações são para casos de hérnias diafragmáticas, que trazem elevados riscos aos pacientes. O painel contou com moderação da médica Cristina Targa Ferreira.
XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria
O XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria foi uma realização da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS). Outras informações podem ser obtidas através do site www.gauchopediatria.com.br .
Redação: Marcelo Matusiak e Fernanda Calegaro
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