Como não poderia deixar de ser, a pandemia da COVID-19 foi a temática presente em quase todos os painéis do primeiro dia de realização do XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria. O evento está sendo realizado de forma online pelo segundo ano consecutivo, por conta das restrições necessárias para evitar o contágio. Especialistas de diversas áreas participaram dos debates.
O presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Sérgio Amantéa, destacou que foi elaborado um programa científico todo voltado à situação da pandemia que tanto nos afetou ao longo do ano de 2020 e continua nos comprometendo no ano de 2021. A presidente do Congresso, Tania Resener, lembrou o momento difícil vivido por todos.
“Perdemos colegas pediatras para a COVID e tantos outros que se recuperaram trouxeram momentos de grande angústia e apreensão. Mas temos que seguir adiante e cumprir a nossa missão", disse.
A convidada Lucia Campos Pellanda (RS) falou na conferência “O antes e o depois da pandemia”, sobre o momento estranho vivido na sociedade pela instabilidade de dados.
“Temos uma proporção vacinal boa, mas não é o suficiente. Há um comportamento das pessoas que acham que a pandemia acabou e por conta disso corremos o risco de regredir. Então não sabemos o que vai acontecer ali na frente”, comentou.
Impacto da pandemia no desenvolvimento infantil
As preocupações com as crianças não são só de fatores clínicos, mas de comportamento, saúde mental e desenvolvimento. O painel com moderação de Renato Santos Coelho (RS) discutiu aspectos relevantes nesse cenário.
“Houve situações muito distintas entre uma família e outra. Infelizmente aumentaram os casos de violência verbal, negligência e houve uma terceirização das tarefas de lazer para as crianças. Por outro lado, em famílias estruturadas nas quais pais trabalhavam muito tempo fora houve uma reorganização positiva do tempo de acolhimento delas", afirmou o médico Ricardo Halpern (RS).
A palestrante Magda Lahorgue Nunes (RS) destacou que existe claramente um impacto do isolamento social nas rotinas de sono, não só das crianças, mas também dos pais.
Assim como acontece com os adultos, as pesquisas e estudos da COVID-19 em crianças ainda não são totalmente esclarecedoras. Por isso, é um desafio para a conduta dos pediatras. O painel foi mediado pelo médico pediatra Evandro Mulinari. O infectologista pediátrico Marcelo Scotta lembrou que as crianças podem ser agentes transmissores, apesar de não ser um quadro alarmante. Já o infectologista pediátrico Fabrizio Motta alertou para conclusões equivocadas que muitas vezes acontecem. “Ter muita ou pouca carga viral não quer dizer que a pessoa transmite mais”, disse.
Manifestações gastrointestinais da COVID também foram relatadas no evento. Em painel com moderação de Caroline Montagner Dias, o convidado José Vicente Noronha Spolidoro (RS) destacou que o cenário das crianças permanecendo em casa trouxe uma série de alterações, como a própria diminuição das atividades físicas, o que compromete de alguma maneira a saúde geral da criança. A médica Elisa de Carvalho (DF) ressaltou que apesar de não haver dados concretos, percebe-se uma queixa digestiva mais prolongada nos casos de crianças que testaram positivo para COVID-19.
“É importante lembrar que o vírus é, também, identificado nas fezes. Existe até uma investigação se a via fecal-oral não poderia ser mais um meio de transmissão, mas isso não está provado”, declarou.
O aspecto psiquiátrico com preocupações relevantes na saúde mental das crianças também esteve em pauta na conversa com mediação de Lilian Day Hagel. O psiquiatra infantil Victor Mardini (RS) ressaltou a necessidade de limitar ao máximo o uso de telas, manter o contato olho no olho, e incentivar atividades esportivas. O palestrante Thiago Gatti Pianca destacou a importância dos pais terem bom senso, equilibrando o uso das tecnologias com brincadeiras.
A obesidade infantil também foi destaque. As crianças estão mais obesas acendendo um alerta que já existia antes mesmo da pandemia, mas que foi agravado com o distanciamento social.
“O ficar em casa restringiu as crianças muito para as telas. Houve uma mudança de padrão alimentar e baixa nas atividades físicas muito intensa”, detalhou a médica Leila Cristina Pedroso de Paula (RS).
O moderador Guilherme Guaragna Filho (RS) destacou a ansiedade, também, como um componente fundamental neste processo.
Infecções e erros inatos de imunidade foram tema de mais um painel, com moderação de Hélio Miguel Lopes Simão (RS) e participação dos médicos Renan Augusto Pereira (RS) e Helena Fleck Valasco (RS).
“O papel do pediatra é suspeitar das manifestações clínicas graves”, comentou Renan Augusto Pereira.
O debate do uso abusivo das telas e fones também teve a abordagem das consequências oftalmo e otorrinolaringológicas em um painel com participação das médicas Rosane Ferreira e Rita Carolina Pozzer Krumenauer.
Telemedicina: presente e futuro
A aplicação da tecnologia na medicina não é nada novo, sendo algo que já vinha ocorrendo cada vez de forma mais intensa. Porém a pandemia acelerou este processo. O tema foi destaque no painel Telemedicina: presente e futuro, com moderação de Felipe Cezar Cabral (RS). O palestrante, Luciano Eifler, lembrou que a telemedicina ajuda muito em locais onde não há a presença de especialistas.
“Conseguimos um alcance inédito através de sensores e telemetria. É como se levássemos o hospital até o paciente”, disse.
O convidado especial da sessão foi o Robô Temi (RS). O equipamento que pode ser conduzido pelas emergências e diferentes ambientes hospitalares, proporcionando momentos de interação com o paciente.
Vacinas específicas para COVID: presente e futuro
Um dos mais aguardados temas é a vacinação. O painel com moderação de Benjamin Roitman (RS) trouxe dois especialistas no assunto. O médico Juarez Cunha (RS) manifestou preocupação com os diferentes cenários em outros países que já estão muito mais adiantados, enquanto o Brasil ainda enfrenta sérias dificuldades.
“As pessoas relaxaram muito. Várias outras doenças respiratórias diminuíram, o que mostra a eficácia de hábitos como lavagem de mãos, evitar aglomerações e fazer o uso de máscara”, disse.
Marco Aurélio Palazzi Sáfadi (SP) comentou um erro comum que tem sido a comparação do Brasil com outras nações nas ações de combate a pandemia.
A pandemia e a escola: temos muito a discutir
“Doutor: levo ou não meus filhos para a escola?” A pergunta tem sido chave nos consultórios médicos e é praticamente impossível encontrar uma resposta única. O debate teve moderação de José Paulo Ferreira (RS). A médica Eliana Wendland (RS) lembrou o papel da escola como promotora de saúde.
“Aprendemos muito ao longo de todo o ano passado sobre transmissão em crianças e o quanto a escola é ou não uma fonte de transmissão. Há dados interessantes porque sabe-se que elas se infectam em um grau muito menor e possuem menos chance de evoluírem para um caso grave. O quanto ela ficará fora da escola em termos cognitivos e educacionais, além dos prejuízos emocionais que a longo prazo repercutem até mesmo em uma menor expectativa de vida”, disse.
Érico José Faustini (RS) ressaltou a importância do tema, uma vez que o pediatra é uma parte muito envolvida nesse debate.
“Durante a pandemia a dificuldade das crianças continuarem na escola foi mundial, e não um problema localizado. Em torno de 1 bilhão e 700 milhões de crianças no mundo passaram por algum prejuízo. Mais de um terço dessas crianças não tiveram acesso ao ensino remoto. Se analisarmos no Brasil, esse quadro certamente foi ainda pior”, afirmou.
Ao final do evento, especialistas discutiram a bronquiolite viral aguda, com as possíveis mudanças na epidemiologia da doença. A atividade teve participação de Magali Santos Lumerts, Gilberto Bueno Fischer e Paulo José Cauduro Marostica.
A SIM-P (Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica) foi trazida em uma sessão com participação de João Carlos Batista Santana, Hany Simon Junior e Cláudia Ricachinevsky.
XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria
O XIII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria é um evento oficial da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. As palestras acontecem nos dias 11 e 12 de junho, sendo o evento realizado totalmente de forma virtual por conta das restrições impostas na prevenção da propagação da COVID-19. Outras informações podem ser obtidas através do site www.gauchopediatria.com.br .
Redação: Marcelo Matusiak
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