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O impacto do isolamento para crianças com Transtornos de Espectro Autista

Com a proposta de chamar a atenção da população sobre um dos principais transtornos do neurodesenvolvimento, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, fixado em 2 de abril. No ano passado, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) lançou um documento que atualiza os dados e mostra a prevalência de uma pessoa com autismo para cada 54 crianças na faixa etária de 8 anos. No Brasil, segundo estimativas globais da ONU, são aproximadamente 2 milhões de pessoas com Transtornos de Espectro Autista (TEA).

O impacto que o isolamento social causa nesta parte da população será medido com o passar do tempo, mas segundo o pediatra e membro da SPRS, Renato Santos Coelho, algumas reflexões e conclusões sobre o assunto já podem ser feitas. Para ele, estão nitidamente visíveis as mudanças nas questões comportamentais e emocionais, especialmente na parte pedagógica de ensino e convívio social.

“O impacto negativo está na falta de atendimentos e serviços de apoio terapêutico para os problemas que essas crianças apresentam. Os atendimentos com fonoaudiólogo, terapia ocupacional, musicoterapia e psicopedagoga são serviços que dão o suporte de tratamento para crianças com espectro autista e que ficaram reduzidos, deixaram de ter ou estão no sistema online, que não tem o mesmo efeito do que o atendimento presencial. Com a mudança de rotina, essas crianças têm dificuldades de se adaptar, já que possuem um padrão de comportamento repetitivo”, explica.

O isolamento e o convívio mais intenso dentro de casa trouxeram, ainda, uma dificuldade de adaptação para algumas famílias. O especialista comenta que no momento em que a criança tem uma rotina de ir para a escola e para os atendimentos, a atribuição agora direcionada aos pais, desestabilizou muitas famílias que estavam protegidas e cuidadas por uma equipe multidisciplinar que orientava nesta situação que é crônica e evolutiva.

“O fato de estarem em isolamento facilita na rotina que eles já conhecem, mas por outro lado, desorganiza o que as crianças já tinham. Agora os serviços e atendimentos são feitos pelos pais e percebemos que com a falta de atividades, as crianças ficam muito tempo assistindo televisão ou nos celulares e tablets, e isso pode estimular o cérebro e deixar eles mais irritados e agressivos”, acrescenta.

Boa parte das crianças com transtorno espectro autista tem alterações sensoriais, as mais comuns são as auditivas, onde eles têm uma baixa tolerância aos sons agudos e de intensidade muito alta. Além de alterações visuais, táteis, gustativas e olfativas que podem causar desorganizações. Essas alterações sensoriais também se manifestam na parte de adaptação social e, segundo Coelho, isso explica as dificuldades que eles apresentam em ambientes com muitas pessoas.

“Creio que após a pandemia teremos uma readaptação mais fácil, pois vamos estar com uma energia positiva de que o pior passou e podemos voltar para uma normalidade de vida. No momento em que a criança volta a ter atividade de escola e atendimentos com os terapeutas, será necessário fazer uma previsibilidade suficiente para que ela saiba que será novamente diferente”, conclui.
 

Redação: Fernanda Calegaro
PlayPress Assessoria de Imprensa

 

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